Neste artigo, a partir do exemplo do que ocorreu com o mercado da música, explicarei a diferença entre modelos de negócios baseados na abundância e modelos de negócios baseados na escassez e porque isso poderá afetar o seu negócio em um futuro próximo.
O contrário da abundância é a escassez. E uma boa forma de entender a diferença entre os dois modelos é observando o que ocorreu com o mercado da música.
Escassez: Acesso restrito a poucas pessoas; escolhas limitadas
Durante vários séculos a única forma de se ouvir música era ao vivo. Se alguém quisesse ouvir uma sonata de piano em casa precisaria possuir um piano, e alguém que o tocasse. Um luxo para pouquíssimos.
Até que no final do século 19, um alemão chamado Emil Berliner, inventou o gramofone, causando a primeira revolução no mercado e ampliando consideravelmente o acesso à música.
Mudaram as empresas que dominavam o mercado, saindo de cena os fabricantes de piano e entrando as gravadoras de discos.
O modelo, contudo, continuava baseado na escassez. Os discos eram considerados caros para a maioria da população que, com recursos limitados, precisavam escolher alguns poucos títulos ao longo de um ano, ou até de uma vida.
Passaram-se mais de 100 anos até que viesse a segunda revolução no mercado da música. Com o surgimento da Internet, a compactação dos arquivos de música e a criação do Itunes pela Apple, que possibilitou a compra de músicas individuais e o armazenamento de centenas ou milhares de músicas em um dispositivo que podemos levar no bolso.
Abundância: Acesso e escolhas ilimitadas
Pouco mais de uma década depois veio a terceira e mais profunda revolução. Foi quando o Spotify (logo vieram outros) passou a oferecer música no formato de streaming e no modelo de assinatura mensal.
De repente, cada pessoa passou a ter acesso a um acervo de mais de 30 milhões de músicas, de todos os tipos e gostos, pagando por mês menos do que se costumava pagar por um CD. Ou mesmo não pagando nada, se concordasse em ouvir algumas propagandas de vez em quando.
Neste momento você já entendeu que o modelo passou da escassez (poucas escolhas, preços altos) para a abundância (muitas escolhas e preços baixos).
Com a mudança, empresas que eram gigantes e dominavam o mercado, no caso as gravadoras como Universal, Sony e Warner, passaram a ser coadjuvantes dos novos players, como o já citado Spotify, o Deezer e a Apple Music.
Movimento semelhante está ocorrendo no mercado de cinema e vídeo, com os serviços como Netflix, Amazon Prime e HBO Go ferindo de morte o já obsoleto mercado das TVs por assinatura. Aliás, se olharmos para esse mercado, veremos uma evolução semelhante à que ocorreu na música: iniciando pelo teatro, passando pelo cinema e a televisão, em seguida a TV por assinatura, as vídeo-locadoras, o YouTube, o Netflix, etc.
E a cada mudança do modelo, novos players surgiram, ameaçando as empresas já estabelecidas. Algumas conseguiram se adaptar e sobreviver, outras simplesmente desapareceram. E a cada nova onda de inovação as mudanças ocorrem em uma velocidade maior. Talvez você se lembre da Blockbuster, uma gigante, que dominava o mercado de vídeo locação no início desse século e que sumiu do mercado pouco tempo depois.
E o que todos se perguntam, de onde virá a próxima grande mudança?
O mercado de automóvel certamente é um forte candidato. Com a consolidação de serviços como o UBER, e a entrada em operação (em breve) dos veículos autoguiados, já tem muita gente séria apostando que poucos comprarão carros no futuro. Agora imagine o impacto em toda cadeia produtiva do automóvel! Autoescolas, estacionamentos, seguradoras, revendas de veículos, são alguns exemplos de negócios que talvez não resistam ao final da próxima década.
As áreas de educação e saúde são outros exemplos com grandes níveis de ineficiência e enormes oportunidades para startups com ideias e energia para revolucionar esses mercados.
Eu não me lembro quando comprei meu último CD. Os meus filhos, que são adolescentes, nunca sequer compraram um. Eu também já cancelei a assinatura da TV a cabo e não sinto nenhuma saudade. E quanto ao meu carro, ele ainda está na garagem, mas já tenho dúvidas se voltarei algum dia a uma concessionária para adquirir um novo.
E o seu negócio? Qual o nível de inovação em seu mercado? Ele também está se reinventando, ou as empresas no seu segmento continuam produzindo e vendendo da mesma foram que há duas décadas? Ou você já consegue perceber alguma mudança significativa que está em curso ou está por vir? Deixe o seu comentário e compartilhe com os demais leitores.