Esta semana, o CIOnaNuvem traz uma entrevista exclusiva com Júlio Fernandes, sócio da Adde Valorem, escritório de contabilidade de Brasília.
O executivo, que também participou do Accountex 2019, compartilhou conosco suas impressões sobre o evento nos EUA e o que pensa sobre o futuro da contabilidade no Brasil.
Confira o bate-papo abaixo!
CIO – O que te motivou a ir à Accountex, em Boston?
JF – Estamos vivendo em um mundo onde a tecnologia vem transformando todas as profissões, e a contabilidade é uma das mais afetadas pela tecnologia.
Nesse contexto, quisemos participar do Accountex USA esse ano porque queríamos entender o que está acontecendo lá nos Estados Unidos em termos de tecnologia, para avaliar como temos que nos posicionar aqui no Brasil.
Muitos contadores têm medo do avanço da tecnologia, acham que a contabilidade vai acabar. Nós, (do escritório) já pensamos diferente.
Entendemos que é preciso focar mais no valor gerado para o cliente do que no processamento da informação, e nada melhor do que a tecnologia para ajudar o contador nesse processo.
CIO – Quer dizer que você vê a tecnologia como uma aliada e não como uma ameaça à profissão?
JF – A profissão não vai terminar, mas passará por um processo de transformação, onde o contador será muito mais útil gerando informações qualitativas e auxiliando os empresários na tomada de decisão.
Pois o simples processamento das informações contábeis não gera valor para os empresários. Há o sentimento de que a contabilidade é apenas mais uma obrigação a cumprir, e não algo que agrega valor ao seu negócio.
CIO – Na Accountex, você teve a oportunidade de conversar com muitos fornecedores, além de assistir às palestras. O que te chamou mais a atenção no evento?
JF – Eu imaginava que quando chegasse lá, falaria só de tecnologia. Do RPA (Robotic Process Automation), Blockchain, Inteligência Artificial, mas o que mais me chamou a atenção é que falou-se muito sobre a importância do mindset (mentalidade) do contador.
No Brasil, discute-se sobre contabilidade consultiva como diferencial. Já nos EUA, eles nem precisam falar nesse termo, pois a contabilidade lá já é consultiva.
Em termos de tecnologia, o que me chamou atenção, é que é muito parecido com o que temos no Brasil, mas os softwares estão mais evoluídos.
Se você fizer um comparativo entre o Xero e o Conta Azul, o Conta Azul é muito parecido, inclusive o layout. O software americano tem alguns recursos adicionais que trazem informações mais qualitativas hoje. Mas nada que não vá chegar aqui também.
CIO – O Xero é o principal competidor do Quickbooks, que é o líder de mercado?
JF – Sim. O Quickbooks tem mais de 75% do mercado americano no segmento de pequenas e médias empresas, e está em fase de testes aqui no Brasil. A expectativa é que até o início do próximo ano eles façam o lançamento aqui.
CIO – Chamou muito a minha atenção o fato de esses softwares serem muito integrados com outras aplicações. Eles têm essa ideia de você poder utilizar vários aplicativos interconectados…
JF – Várias empresas nos EUA se especializaram em desenvolver soluções focadas na experiência do cliente, e elas possuem integração com o Quickbooks ou com o Xero.
Por exemplo, o Receipt Bank é um software em que você tira uma cópia do documento fiscal e ele faz a leitura do documento, já efetuando as classificações financeiras a partir da integração com o sistema financeiro do cliente.
E, o mais legal, é que ele serve como “arquivo morto” para o cliente, ou seja, fica salvo por até 10 anos para consultas.
CIO – Mesmo com 75% de mercado, o Quickbooks opta por ser uma plataforma aberta…
JF – Ele foca no que faz bem, que é produzir um software de gerenciamento financeiro, e é aberto a outras ferramentas, que trazem uma experiência melhor para o usuário.
O CashFlowTool é outro exemplo de integração: ele traz projeções de fluxo de caixa, mostra por que os indicadores estão ruins e o que a empresa tem que fazer para melhorar. Essas ferramentas trazem muito mais valor para o cliente.
Confira no vídeo abaixo a discussão sobre como essas soluções trazem uma melhor experiência para o cliente e como o Brasil está nessa questão.
CIO – O mercado de contabilidade americano é um pouco diferente, porque lá eles têm o Accountant e também o Bookkeeper. Como funciona isso?
JF – Eu também não sabia dessa diferença, mas existem 3 categorias de profissionais nos EUA:
- Bookkeeper – profissional que não precisa ser formado em contabilidade, realiza apenas o processamento das informações.
- Accountant – é o contador com formação específica na área.
- CPA – Certificação para atuar em empresas que são listadas na bolsa dos EUA. São poucos os contadores que possuem essa certificação (basicamente, os auditores), portanto, é um motivo de orgulho para eles e um fator que diferencia muito o nível de experiência dos contadores.
CIO – O que mais você viu de interessante sobre Inteligência artificial, RPA?
JF – O RPA, que é a automatização por robôs, está bem evoluída. Já existem diversas empresas focadas em RPA, coisa que a gente vê muito pouco por aqui.
Em outras tecnologias, como o Blockchain, Inteligência Artificial, Machine Learning, eles também estão mais avançados, mas não consegui ver nada de concreto.
Alguns sistemas fazem sugestões com base na IA de forma muito simplista, no entanto acredito que isso seja uma questão de tempo.
CIO – Uma barreira para ter essas informações disponíveis para as aplicações de IA, é que muitas empresas ainda usam os aplicativos no computador, sem estar na nuvem.
JF – Sim. Nos EUA, grande parte das empresas ainda usa o Quickbooks no desktop (instalado na máquina).
Este é um ponto em que o Brasil supera os americanos.
“Aqui, não precisamos mais de soluções no desktop. Conseguimos trabalhar 100% de forma online e digital, enquanto que, nos EUA, ainda não existe a Nota Fiscal Eletrônica.“
CIO – A Bootkeeper, a qual eu já citei aqui no CIOnaNuvem, é uma empresa de contabilidade online americana que trabalha um marketing agressivo. Porém, eles fizeram um reposicionamento de mercado e passaram a oferecer sua plataforma e seus serviços de automatização aos contadores.
Além disso, eles cuidam de toda a parte operacional dos escritórios de contabilidade. Você acredita que o mesmo possa acontecer no Brasil, com a Contabilizei, por exemplo?
JF – Não sei qual o planejamento da Contabilizei em relação a isso, mas, aqui no Brasil, tem a Roit, que diz que automatizou 96% dos processos contábeis, atendendo a clientes de grande porte.
O CEO da Roit anunciou que, no início de 2020, a empresa vai disponibilizar sua tecnologia aos escritórios de contabilidade menores. A partir daí, conseguiremos entender o nível de automação da Roit, o que já é o início desse processo, porque a empresa deixa de usar só para ela e passa a comercializar para outros escritórios contábeis.
A Roit e a Contabilizei atendem a públicos diferentes e conseguem atuar praticamente sozinhas no mercado com essa tecnologia. Mas, daqui a alguns anos, isso não será mais um diferencial, pois, provavelmente, esse movimento que está acontecendo nos Estados Unidos deve aparecer mais aqui no Brasil.
Como vimos nesta entrevista, o futuro da contabilidade está muito mais próximo do que você imagina! E você, vai ficar de fora? Comece a se preparar, investindo na automatização de processos!
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